O sistema de recompensa não apresenta apenas a dopamina (DA) em sua composição, outras substâncias também estão envolvidas como mensageiros químicos, tais como a serotonina, escefalina, ácido γ-aminobutírico (GABA), a acetilcolina (ACH), e alguns outros. O estudo da neuroanatomia do prazer demonstram que existem centros cerebrais que atuam em rede ativando os mensageiros químicos que controlam os estados de prazer, o chamado circuito cerebral hedônico, que controlam três comportamentos diferentes, porém relacionados: GOSTAR, QUERER e APRENDER. O prazer é traduzido em estímulos que ativam os processo neurais do “querer”, aquela ideia fixa, a busca insistente. O “gostar” é independente do “querer”, é possível querer sem gostar, neste ponto é interessante conhecer a neuroadaptação do vício, pelo menos um pouco, tendo em vista que o assunto é estudado há anos e até o momento ainda não foi determinado com 100% de certeza a fisiopatologia e mecanismos que estão relacionados com a gênese e a manutenção da dependência.
O consumo prolongado de substâncias psicoativas provocam mudanças anatômicas e fisiológicas no cérebro e no organismo como um todo. Estas mudanças tornam a substância mais importante para a sobrevivência do indivíduo, tendo em vista que para ter o equilíbrio, é importante que a substância esteja presente. Quando a substância não está presente começam a surgir sintomas de desconforto como vontade intensa e sem controle, tremores, suores, aumento de pressão e temperatura. E a busca que antes era pelo prazer, passa a ser pela necessidade de diminuir os sintomas desconfortáveis (crise de abstinência). Em condições normais, um organismo não necessita de drogas como cocaína, álcool, heroína, maconha, tabaco para sobreviver, para funcionar com equilíbrio. Então, a partir do momento em que a pessoa começa a ficar dependente de tais substâncias, ocorre uma modificação fisiológica do organismo que passa a lutar para destruir e eliminar tais substâncias do organismo a fim de restabelecer o equilíbrio (homeostase).
A partir daí, a medida em que as drogas começam a entrar no corpo com constância, o organismo vai se adaptando ao uso das drogas e começa a desenvolver mecanismos de proteção, para dificultar a ação das substâncias psicoativas, e começa a destruir e eliminar. Porém a medida em que o organismo vai se adaptando, ou seja, mantendo a funcionalidade parecida com o que era antes do vício, a nova forma de manter o equilíbrio do passado faz com que o organismo comece a sentir a necessidade de ter a droga atuando para funcionar. É aí que o organismo estabelece mecanismo que passam a sinalizar que não tem droga ou que ela não está em quantidade suficiente. Ou seja, o organismo passa a trabalhar tendo a necessidade de ter a droga, e deste modo, a ausência da mesma, fará falta para o funcionamento adequado. E é em razão dessa neuroadaptação que o organismo passará a necessitar cada vez mais de uma maior quantidade da droga para conseguir funcionar da forma correta para a sobrevivência.
Bem, mas a afirmação é o AÇÚCAR NÃO VICIA. Para mim como nutricionista, cientista de alimentos é demasiado simples que profissionais afirmarem que o açúcar vicia, do mesmo modo que substâncias psicoativas, baseando-se apenas em estudos com ratos, onde nem todos os experimentos podem ser considerados realmente adequados para fazer tais considerações. Alguns estudos foram realizados com humanos, um muito interessante, com fundamento científico “Eating dependence and weight gain; no human evidence for a ‘sugaraddiction’ model of overweight”, chega a conclusão que não há evidências para afirmar que o açúcar é um alimento viciante. O artigo pode ser acessado no grupo do Busão da Nutrição no Facebook, quem quiser ler, pode solicitar a entrada.
O carboidrato fornece energia, é um elemento essencial para a sobrevivência, simplesmente afirmar que o açúcar vicia para assim estabelecer que a obesidade, o problema do controle de peso está associado a uma substância apenas é demasiado simplório. Principalmente, em razão de que quando se afirma que o açúcar vicia, outros fatores importantes e que podem motivar o consumo de alimentos que possam trazer conforto e aliviar o estresse deixam de ser investigados. Então, minha opinião é a mesma, tenham cuidado com os profissionais que você procura, veja a formação, não busque apenas os mais seguidores, vá atrás de capacidade técnica, não use a rede social para escolher, converse, pesquise, investigue, afinal é sua saúde que está em jogo.
Até o próximo post.
Finalmente um texto descente e top sobre o açucar e o fato de que ele Não vicia! Acredito que tem sido uma das missões mais dificeis ate agora como nutricionista: fazer as pessoas entenderem isso de uma vez por todas. Obrigada pelo excelente conteudo e a referência do artigo que eu tanto procurava. Tentei acessá-lo na integra em pdf mas não consegui, se você por acaso tiver e puder me enviar vou ser eternamente grata. Grande abraço!